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terça-feira, 3 de março de 2009

Ganância branda

A folha de são paulo deu de chamar a ditadura militar brasileira de "ditabranda". O que esperar de um jornal que cria neologismos como esse? Fala sério. A folha cresceu à sombra da ditadura militar. Picadura no * dos outros é maria-mole.

Aí vem Ferreira Gullar e publica o artigo "A ganância do bem" na mesma folha. Fala sério de novo.

Vejamos os arroubos do poeta, parágrafo por parágrafo.

Hoje em dia, quando os apressados falam do fim do capitalismo, eu, na minha condição de “especialista em ideias gerais” (Otto Lara Resende), lembro que isso dificilmente acontecerá pelo simples fato de que o capitalismo, ao contrário do socialismo, não foi inventado por ninguém.

Tudo o que não foi inventado por ninguém, não tem fim. O Feudalismo, por exemplo, que está aí até hoje, firme e forte.

Não praticaria a blasfêmia de afirmar que foi criado por Deus, conquanto há quem garanta que o foi pelo Diabo. Como sou pouco afeito a questões teológicas, prefiro acreditar que ele nasceu espontaneamente do processo econômico, ao longo do tempo. Costumo dizer que o capitalismo é quase como um fenômeno natural e, de fato, parece-me ter da natureza a vitalidade, a amoralidade e o esbanjamento perdulário, dizendo melhor: cria sem cessar e, com a mesma naturalidade, destrói o que criou.

Então. O capitalismo é quase um fenômeno natural. Não o é totalmente porque, ao contrário de todos os demais fenômenos naturais cujos ciclos de vida se fecham, o capitalismo não morrerá nunca, apesar de ter nascido e crescido como os demais.

Por exemplo, a natureza faz nascer milhões de seres e, de repente, inunda tudo e mata quase todos. Mas, ao fazê-lo, gera outras vidas. E parece dizer: “Que se danem”, como faz e diz o capitalismo, mantidas as devidas proporções.

A natureza, que é feita de milhões de vidas, se renova sempre após matá-las quase todas e gerar outros tipos de vida. Assim, quando substitui pacas, tatus e cotias por gado leiteiro, a natureza vai continuar sempre se renovando. Da mesma forma quando se substituem milhões de árvores silvestres por eucaliptos ou pasto. Igualzinho ao Capitalismo que, quando destrói empregos e cria outros, não na mesma proporção, renova-se e se fortalece, ainda que o número de pobres desempregados seja cada vez maior. Um pobre transformado em um bilhão de pobres é renovação e vitalidade. Tá bom, Ferreira Gullar!

Já o socialismo foi inventado pelos homens, para corrigir o capitalismo, para introduzir nele a justiça. Os inventores do socialismo, em face da ferocidade do capitalismo nascente, em meados do século 19, sonharam com uma sociedade em que todos teriam os mesmos direitos e as mesmas oportunidades. Entendiam que a chamada democracia burguesa era, na verdade, uma ditadura da burguesia e que deveria ser substituída pela ditadura do proletariado.

Como o socialismo foi inventado por seres humanos, tinha que morrer. Ao contrário do capitalismo, que é eterno porque não foi inventado por ninguém nem governado por nenhuma classe social. Embora terá, um dia, de continuar seu rumo sem o dinheiro, pois este, como todos sabem, foi inventado pelo ser humano e, pela teoria gullariana, uma hora também vai morrer, como o socialismo. Além disso, a ferocidade do capitalismo decadente do século XXI não dá margem a mais nenhum sonho, ao contrário de sua ferocidade no século XIX. E o socialismo, que, segundo os que o postularam, constitui-se numa sociedade sem classes, será governada pela classe do proletariado. Segundo Ferreria Gullar, que não inventou a deturpação das idéias nem a ignorância sobre determinado tema, a ditadura do proletariado não é uma transição para o socialismo, mas o próprio socialismo.

Seria esta uma ditadura justa porque exercida, não pelos que usufruem do trabalho alheio e, sim, pelos que trabalham e produzem a riqueza da sociedade. O resultado final dessa revolução seria a criação da sociedade sem classes. É verdade que ninguém nunca soube o que seria essa sociedade e nem Karl Marx, o seu inventor, chegou a defini-la.

De fato. Como um inventor pode definir o próprio invento? Como Charles Darwin poderia entender a Teoria da Evolução das Espécies e Einsten, a Teoria da Relatividade? Se fôssemos exigir que alguém defina o que inventou, como seria possível as crianças inventarem tantas coisas se nunca têm a menor noção do que inventam? (Na verdade, Marx chegou ao socialismo como síntese da antítese do capitalismo, mais precisamente da barbárie capitalista, que não tem nada de poética e de construtiva ou de renovadora, ao contrário do que afirma Ferreira Gullar. Marx desembocou no socialismo porque estudou e entendeu mais do que qualquer outra pessoa as engregagens e o funcionamento do capitalismo, deduzindo seu fim. Ferreira Gullar acha que o capitalismo é eterno porque na verdade não entende porra nenhuma desse sistema econômico).

Como se sabe, na segunda década do século 20, a revolução socialista deixou de ser mero sonho para se tornar realidade, assustando os capitalistas e levando-os a atender muitas das reivindicações dos trabalhadores. Quatro décadas depois, boa parte da Europa e da Ásia vivia sob regime socialista. No entanto, antes que o século terminasse, o socialismo real desmoronou, para o espanto, sobretudo, das pessoas que nele viam o futuro da humanidade.

Se os capitalistas, assustados, atendenderam as reivindicações dos trabalhadores, é porque governam o capitalismo, que não é governado por ninguém, conforme dito logo acima e repetido logo mais abaixo. Fala sério, Gullar.

Ao contrário do que muitos temiam, não foram os exércitos capitalistas que o derrotaram, não foram foguetes norte-americanos com bombas nucleares que deram fim ao poder do Kremlin. Não, na verdade, ele foi liquidado por uma espécie de colapso interno fulminante, que não foi militar, mas econômico. O socialismo perdeu a disputa econômica com o capitalismo.

Para quem não entendeu, a disputa econômica com o capitalismo constitui-se, na verdade, num colapso interno fulminante. Realmente incompreensível.

Em visita à Ucrânia, em 1972, ouvi um dirigente do partido comunista ucraniano dizer que tudo o que aquela república soviética produzia se devia à ação do partido, o verdadeiro motor de sua economia. Pois essa afirmação talvez explique o fracasso do socialismo: como poderia meia dúzia de burocratas fazer funcionar a economia de um país?

Isto é, o fracasso do socialismo, causado por um colapso interno fulminante e pela disputa econômica com o capitalismo, foi causado por meia dúzia de burocratas. Decida-se, Gullar!

E explica também por que o capitalismo não morre e por que não foi preciso inventá-lo: vive da ambição de cada um, da iniciativa de cada pessoa que quer melhorar de vida, produzir, vender, comprar, revender, lucrar, enriquecer, sem que ninguém a obrigue a isso, muito pelo contrário.

Mesmo que um número cada vez maior de pessoas só tenha piorado de vida, nem tenha nada para vender, para comprar, para revender, para lucrar ou para se enriquecer. Mas isso é apenas detalhe. Que se danem!

Em lugar de um comitê dirigente que determine o que deve ser feito, no capitalismo milhões fazem o que conseguem fazer, atendendo às necessidades do possível comprador, no afã de ganhar dinheiro. Isso explica a vitalidade do regime e, ao mesmo tempo, muitas vezes, o vale-tudo para alcançar o lucro máximo.

Ou seja, no capitalismo, o vale-tudo para alcançar o lucro máximo, o que inclui fraude nos produtos, adulteração nas mercadorias, nos alimentos, nos remédios, nos pesos e medidas, significa, claro, atender às necessidades do possível comprador.

O planejamento socialista, se evitava o desperdício, inibia a produção, o que resultava em outro tipo de desperdício, sendo o maior de todos, o dos talentos empreendedores que não encontravam campo para se realizar. Uma visão equivocada do capitalismo ignorava o papel fundamental do empresário, cujo investimento em ideias e dinheiro gera empregos e riqueza.

Embora esses talentos empreendedores e essa geração eterna de empregos e riqueza produza cada vez mais desemprego e pobreza, isso é mero detalhe. Que se danem!

Se o socialismo nasceu do que há de melhor no ser humano -o senso de justiça e a fraternidade-, o capitalismo, se não surgiu do que há de pior em nós, é, não obstante, a cada momento, movido por ele, ou seja, pela ganância sem limites e sem escrúpulos. No entanto, essa ganância é que o faz gerador de riqueza.

A ganância sem limites e sem escrúpulos de todos é que gera a riqueza, veja só. E o socialismo não deu certo porque era só uma meia dúzia que agia assim. Fala sério.

Admitindo-se como verdade que o capitalismo não morrerá - mesmo porque as crises, em vez de matá-lo, o renovam -, a solução é encontrar um meio de torná-lo bom, incutindo-lhe a “ganância do bem”. Isso, bem entendido, se o Diabo deixar.

A ganância sem limites e sem escrúpulos é que faz o capitalismo gerar emprego e riqueza. Então. Mas isso não é bom. Bom vai ser se for adotada uma "ganância do bem". Então. Se não deu certo incutir no capitalismo o senso de justiça, incutir nele a "ganância do bem" vai dar, com certeza. Agora vai! Tá bom, Ferreira, tá bom!

Kali.
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mas do mundo,
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