Então Dercy Gonçalves morreu, coitada. Em homenagem, vou publicar de novo aqui um poema que fiz para ela, inspirado numa resposta que ela deum numa entrevista. A pergunta e a respectiva resposta eram essas, vejam só:
- Há quanto tempo você desistiu dos homens?
- Aos 60 anos, eu ainda tinha namorado. Depois, comecei a perceber que estava me magoando. Eram todos homens mais jovens e oportunistas. Eu pensei "poxa, mas não sou eu o que eles querem, mas as minhas coisas". Então, parei para sempre.
Essa confissão da Dercy me tocou de maneira bastante particular. Não só por que me atingiu por que sou homem, mas especialmente pela comovente e tão comum desilusão feminina com o comportamento masculino. Daí saiu o Poema do Lábios Trêmulos, que dediquei não apenas a ela, Dercy, mas a todas as mulheres apaixonadas que não se vêem correspondidas na grandeza de suas paixões.
Os homens nunca me amaram.
Nenhum deles, nem um reles.
Só queriam minhas coisas, todos eles.
Nem mesmo o último,
Que queria apenas me beijar,
Que me levou o resto que eu tinha,
O pouco que em mim ainda havia para dar:
Guardados em lábios trêmulos,
Os últimos beijos úmidos
Ele veio roubar,
Deixando-me só com meus beijos estéreis e secos
Que, depois, a homem nenhum em minha vida
Ousei entregar.
Valeu, Dercy. Que a morte te dê o que os homens não conseguiram te dar. Beijos kálidos.
Kali.
Gostou, assine.
Não falo de mim, mas do mundo, bem mais importante e interessante. Quiçá, mais bonito :Þ