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segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Carta à Sua Excelência o governador do Rio

Senhor governa-a-dor do Estado do Rio de Janeiro,

Vossa maledicência disse há poucos dias que as favelas do rio são "fábricas de produzir marginais", referindo-se à produtividade reprodutora das mães de lá, comparadas às mães da Zona Sul, "padrão sueco de natalidade", não foi? Foi. Então.

Essa afirmação revela toda grandiosidade de vossa pequenez, governador. É a excelência de vossa insolência. A frase nos oferece a total dimensão de seus preconceitos e mostra que o senhor nunca esteve preparado para governar um Estado com mocambos e palacetes, favelas e condomínios, ricos e pobres, mocinhos e bandidos. Mostra não ser vossa incompetência capaz de analisar e entender a realidade que o povo do Rio entregou à vossa gerência.

Primeira pergunta: se a Rocinha, com seu padrão zâmbia de natalidade, é uma fábrica de bandidos, porque os Malufs, os Robertos Jeffersons, os Josés Dirceus, os Ildebrandos, os Severinos, essa putada toda da política nacional, incluindo o sr. Renan Calheiros, do seu partido, mais os garotos pitbulls da classe média, não dão aos bairros de padrão sueco de natalidade em que nasceram, a mesma qualificação que aquela favela recebeu de vossa excrescência? Se o próprio índice de natalidade é menor em tais áreas, não seria o caso de concluir que o percentual de geração de bandidos seria potencialmente maior do que nos morros?

Governador, vossa diligência não encontrará nas favelas cariocas a fábrica de bandidos que procura, embora ela esteja bem mais próxima de vossa adjacência do que possa imaginar vossa vã advertência.

As mães das favelas não geram bandidos, governador. Geram crianças pobres, inocentes, frágeis, indefesas, quase sempre famintas, quase sempre negras, mas nunca bandidas. A elas, pode chegar mais fácil o socorro de um traficante do que o apoio do Estado que vossa indolência dirige. Quando crescem, muitas viram bandidos, realmente, mas com um poder de destruição muito menor que o dos bandidos de pele mais clara, mais bem alientados, com suas grandes empresas de falsificação de remédios, de sabotagem de alimentos, de tráfico de influência, de sonegação de impostos, de desvios de recursos públicos, de expropriação do patrimônio individual do brasileiro. O que um banco rouba do povo jamais se compara a que um bandido rouba de um banco. Se os pobres voltam-se para o banditismo, é mais culpada a mãe do filho que se desgovernou ou o filho da mãe do governador?

Quando vossa eloqüência afirma que favela é uma fábrica de produzir marginais, vossa incoerência deveria se esforçar em acabar com as favelas, esses mantos de vergonha sobre uma cidade não mais maravilhosa, em vez de simplesmente tentar reduzir as suas taxas de natalidade. Mas se vossa impotência não consegue o menos, como há de conseguir o mais, não é? É a favela, com sua carência de educação, de saúde, de horizontes e mesmo de camisinhas, que cria os altos índices de natalidade, não a alta natalidade que cria a favela. Ainda que nascesse um único filho por ano em toda a favela, este ainda seria um favelado. Condições dignas de vida seriam negadas a ele da mesma forma que são negadas aos seus pais. Embora o número de filhos agrave tais condições, a resposta para o crescimento das favelas no país está menos no útero de que se despregam filhos do que no útero do sistema que desemprega mães.

Outra coisa que deveria se lembrar vossa inadvertência: que as mães das favelas do Rio não geram apenas bebês que se tornam bandidos. Geram os próprios policiais de que se utiliza vossa ineficência para combater o crime, incluindo os homens da guarda pessoal de vossa preferência e de vossa residência. Geram ainda as mães das favelas a força de trabalho de que se serve a cidade para manter-se produtiva e mesmo limpa, e também a mão-de-obra que compõe o quadro de pessoal das empresas dos amigos de vossa influência, pretadoras de serviço ao Estado (diga-me vossa grandiloqüência quais empresas contratadas pelo governo do Estado do Rio e eu direi quem bancou tua campanha, Cabral). Geram as mães das favelas, para a pátria, os soldados que as mães ricos não conseguem gerar, sem falar do grandioso exército de reserva do capitalismo para cujas fileiras seus filhos se alistam desde que nascem.

Governador, se as mães favelas do Rio são fábricas de bandidos, não o são quando procriam. O são quando VOTAM.

Não lance sobre elas a responsabilidade de salvar o Rio da violência.

É o que se pede à Vossa Incumbência.

Kali.
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bem mais importante
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