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Blog by Dani
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Como que continuando o post publicado ontem... Mas que país atrasado esse nosso, hein! Veja por exemplo a proibição da obra Detalhes, do historiador Paulo Cesar de Araujo, em que o cantor Roberto Carlos é o personagem. Já falei alguma coisa sobre isso em post anterior, mas tenho que falar outras mais. Primeiro, nem se discute a decisão do juiz Maurício Chaves de Souza Lima, da 20ª Vara Cível da Comarca do Rio de Janeiro! Ela é mesmo atrasada, obscura, medieval! Sobrepõe interesses individuais menores a interesses coletivos muito mais amplos e importantes, além de representar um desrespeito total a um valioso trabalho feito pelo autor, pois, a rigor, a obra não é uma biografia de Roberto Carlos, mas uma história muito bem contada de um período importantíssimo da Música Popular Brasileira, da mudanças de costumes de um povo, da evolução tecnológica e conceitual das comunicações de massa de um país, na qual Roberto protagonisa, das origens socias de importantes movimentos musicais como a Jovem Guarda, a Bossa Nova, o Tropoicalismo. Isso tudo esse juiz jogou no lixo, ajudado pela atitude covarde da Editora Planeta que não ousou lutar até o fim contra essa aberração. Talvez ela mesma não tenha vislumbrado até agora as graves conseqüências dessa decisão para o mercado editorial, para ela própria, portanto. Pois qual autor, pesquisador, historiador, sociólogo ou biógrafo irá agora se atrever a produzir uma biografia de um brasileiro importante? E que leitor gosta de ler uma biografia "autorizada", que não passa, na verdade, de um monte de baboseira e elogios gratuitos ao biografado? Fala sério. Resultado: o país vai ficar consumindo somente biografias de figuras internacionais, dando dinheiro para autores estrangeiros e sem conhecer a história se seus principais personagens históricos e de sua própria história. Continuar na merda, enfim, onde sempre esteve. Como carrasco da liberdade de expressão, Roberto Carlos é uma brasa, mora! Duas coisas sobre suas justificativas para censurar a bela obra de Paulo Cesar de Araújo. Primeiro. A de que sua biografia é um patrimônio que lhe pertence e que, se alguém deve escrever sobre sua vida, essa pessoa deve ser ele mesmo. Nem uma coisa, nem outra, bicho! Nenhuma biografia de nenhum ser vivo aqui na Terra é propriedade de ninguém, especialmente a dos seres vivos mais públicos. Ninguém vive sozinho, falou? A história de cada pessoa é a história de suas relações pessoais e sociais, com outros e não consigo próprio. E isso leva à necessária conclusão de que nem sempre o relato de uma pessoa será o mais fiel, mais verdadeiro, mais isento do que o de uma outra sobre um fato relatado por ela. Segundo. Duvido que Roberto Carlos vá mesmo escrever sua biografia. Vai porra nenhuma! Suponho que ele fala isso só para desviar a atenção da opinião pública que sempre lhe foi generosa. Ele nunca foi de escrever livros! Porque nunca foi de ler livros, como ele mesmo confessou. Foi, sim, de escrever canções. E aí está sua biografia!, como muito bem colocou Paulo Cesar de Araújo. Para melhor entender a obra musical de Roberto Carlos é necessário conhecer a tajetória de Roberto Carlos. Ele canta o que vive e o que sente. Nas suas cações, fala de sua infância, de sua mãe, de seu pai, de sua tia, de seus amores. Memos numa canção como "Caminhoneiro", que trata de um personagem distante de sua realidade de astro pop, o fermento que o inspirou a compô-la está nos caminhões que via passar na frente de sua casa em Cachoeiro e no desejo que o menino Roberto acalentou de um dia dirigr um veículo daqueles. Enfim, se outros cantores-compositores têm uma produção musical desvinculada de sua trajetória de vida, este não o o caso de Roberto Carlos. Sua obra é marcadmente pessoal e autobiográfica. Nem mesmo os fatos biografados sobre os quais recaíram as justificativas para a censura são verdadeiros. As verdadeiras razões, a meu ver, estão nas páginas 150, 279 e 284-285 (da versão vendida nas livrarias, não das versões que circulam na Internet). Essas realmente contradizem a imagem idealizada do "rei da juventude", construída com extremo zelo ao longo de sua carreira. Mas essas páginas agora só podem ser lidas por pessoas como eu, que foram contra a decisão do juiz e contra o acordo entre a editora e Roberto. Quem defendeu a vergonhosa decisão, já não pode lê-las, por uma questão de coerência, de moral e ética.
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Não falo de mim,
nos cartões abaixo para ver os diálogos. imagens: Kim Anderson textos: kali |