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sexta-feira, 9 de março de 2007

Detalhes não tão pequenos

Nas férias aproveitei para ler a biografia de Roberto Carlos, do escritor Paulo César de Araújo, "Roberto Carlos em Detalhes". Esse negócio de biografia "autorizada" e "não autorizada" é idiotice. O que existe é biografia bem feita ou mal feita, verdadeira ou mentirosa, o resto é conversa fiada, não importa se autorizada ou desautorizada. E achei essa aí foi muito bem feita. Li as 400 páginas num ritmo só. Gostei muito e vou dizer por quê.

Antes, um comentário. É sobre a suspensão da publicação, distribuição e comercialização desse livro em todo o território nacional por determinação do juiz Maurício Chaves de Souza Lima, da 20ª Vara Cível do Rio de Janeiro.

Quando eu soube que Roberto Carlos entraria com um processo contra o livro, me antecipei e comprei-ô-ô. Ao contrário do que reza a lenda, a coisa mais fácil de adivinhar é o que sai da cabeça de um juiz. A justiça brasileira é muito previsível. Invariavelmente toma decisões equivocadas, mesmo demorando séculos para fazer isso (*). Essa decisão de suspender a venda do livro equipara-se à decisão do juiz Ênio Santarelli Zuliani no processo da senhora Daniella Tica Reles, digo, Cicarelli e Tato Mãozona, digo, Manzoni. Em ambos os casos, traduziram a lei ao pé da letra e não avaliaram as consequências de suas decisões. Geralmente juízes são oriundos da classe média e o diapasão usado nas decisões é o do individualismo, do personalismo pequeno-burguês, sem análise aprofundada sobre os efeitos sobre o coletivo. No caso do bloqueio do Youtube, deu no que deu. Eles fazem interpretação literal do art. 5º, inciso X, da Constituição da República, que dispõe serem invioláveis a intimidade, a vida privada e a imagem das pessoas. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Uma coisa é a violação da intimidade de uma pessoa, outra bem diferente é divulgar uma informação sobre alguém, que nem fruto de violação foi. Fala sério, senhor juiz! O autor Paulo César de Araújo levou mais de 15 anos pesquisando sobre a vida do rei, colhendo informações de várias fontes, inclusive do próprio monarca. Isso deveria ser respeitado. Isso e o direito do povo à informação, que também é direito constitucional. Se essa decisão for levada a sério, não poderá haver mais nenhuma informação ou notícia sobre ninguém.

Vamos lá. Gostei da biografia porque, ao narrar a vida do Rei, o autor traça também um panorama social e histórico da música brasileira, como pano de fundo. Muito interessante. Ele nunca se esquece de apontar a origem social dos cantores e compositores que vão aparecendo na história, e o que isso pesou nas escolhas e nos estilos musicais que acabaram dando contornos à música popular brasileira. Fala das mudança na tecnologia e no comportamento, a passagem da era do rádio para a televisão, e conta casos, muitos casos. Alguns impagáveis, como o do Tim Maia como entregador de marmitas. Um trabalho bem consistente, na minha opinião. Tô falando do trabalho do autor do livro, não do Tim Maia como entregador de marmitas, claro.

Admirador de Roberto Carlos, o autor não se cansa de elogiar o talento, a persistência do rei, destacando seu tino para o sucesso, para as escolhas do repertório etc. Porém, não abre mão de falar dos fatos que marcaram a vida do maior ídolo da música brasileira de uma forma clara, objetiva e realista.

Talvez esteja aí o principal motivo de RC ter processado o autor da biografia: Roberto Carlos sempre fez questão de cultivar uma imagem de verdadeiro ídolo, transcendental, uma figura mística, um ser perfeito e superior, acima de tudo e de todos, inclusive da própria Jovem Guarda, pois nos "revivals" e nos reencontros dos protagonistas dessa época, ele nunca se dignou a estar presente. E essa biografia dá contornos bem reais e humanos ao antigo Rei da Juventude. Mostra o lado plebeu do rei. É isso. Mesmo assim, Paulo César como biógrafo mostra-se um grande admirador do biografado. Também considero RC um grande artista, especialmente por suas criações mais antigas, dos anos 60 e 70. Foi genial mesmo. Se o trem que passou sobre sua perna tivesse passado sobre sua cabeça, a música brasileira teria sofrido uma perda muito grande, com certeza ("credo, Kali!!!"). Roberto Carlos marcou toda uma época, com certeza.

Outra coisa interessante no livro é que o autor apresenta as motivações de várias letras de músicas. E uma me surpreendeu. Não tem a música Maria, Carnaval e Cinzas, de Luiz Carlos Paraná? Então. Eu pensava que a letra falava da brevidade de um amor de Carnaval, daqueles que nascem em meio à folia para morrer na Quarta-feira de Cinzas, dos sonhos que logo se perdem ("e foi de cinzas seu enxoval, viveu apenas um Carnaval"). E não é que a música, maravilhosa, por sinal, tem um sentido literal mesmo? É! Fala sobre a mortalidade infantil do Brasil, de crianças que nascem e logo morrem, como as ilusões e fantasias de Carnaval, que não duram mais do que três dias. Muito triste, mas igualmente admirável.

Um fim de semana duradouro para vocês. Obrigado pela leitura.

(*): Esse negócio de "lentidão da Justiça", é muuuuuuito relativo. Depende de quem esteja no outro lado do balcão, se é rico ou se é pobre, e se a demora lhe beneficiar ou lhe prejudicar. O resto é fantasia, ilusão.

Kali.
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