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quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Sobre mestres e doutores, mestrados e doutorados

Acontece que a internet é uma coisa deveras interessante. Fonte infindável de informações, entretenimento, produtos, comunicação, samba, rock, verdades, mentiras... o diabo. Então devemos agradecer bastante aos caras que desenvolveram e desenvolvem esse troço, sem esquecer que também colaboramos com o show, quando divulgamos uma coisa ou outra, oferecemos uma opinião sobre isso ou aquilo. Não nos subestimemos.

Tá. Mas, se tantas coisas interessantes a internet oferece, para mim nada há de mais gratificante do que a possibilidade de conhecer e contatar pessoas especiais, inteligentes, cultas, que fazem uma diferença danada no meio de um mundéu de gente interessante e desinteressante que cai na rede. Pessoas com as quais eu jamais trocaria um "oi" não existisse o e-mail, o blog, o danado no MSN, o orkut, e essas coisas todas que colocam pessoas notáveis ao alcance de um pequeno toque de tecla ou do mouse.

Então. Uma dessas pessoas que eu tenho satisfação de conhecer na virtualidade real da net é a tradutora Jussara Simões.

Dessas pessoas admiráveis, mestres no sentido verdadeiro da palavra, que sempre acrescentam alguma coisa com suas opiniões próprias, não emprestadas, como essa:

"Muita gente me pergunta por que não tenho os títulos de mestra e doutora. Confesso que muitas vezes, nos últimos 20 anos, cheguei a pensar nesse assunto, mas é coisa que dá e passa.

Até comecei uma pós lato sensu na UERJ em 88 pra preparar o estômago, mas ele é fraco e começou a se revoltar, então abandonei.

Aprecio quem tem estômago forte e não vê nada demais nesse uróboro em que todos se alimentam da troca de elogios. E não é assim só no Brasil. É no mundo inteiro. Todos são devotos de S. Francisco de Assis: é dando que se recebe. "Eu elogio a sua tese e você elogia a minha, não importa se é uma porcaria, o que não podemos fazer é deixar que o nosso adversário seja elogiado". É um jogo de interesses que promove os que têm estômago mais forte, os que adulam melhor e, por isso, também são adulados. Quem pretende encontrar a verdade na academia se decepciona. É claro que existem Alain Sokal e Jean Bricmont, mas a academia se empenha em acobertar o escândalo. É muito pequeno o número de leitores de Sokal e Bricmont, em comparação à esmagadora necessidade de ganhar diproma de dotô, essa necessidade que leva cabeças brilhantes a se vender por 30 dinheiros e apresentar teses medíocres.

Quando era adolescente, uma das músicas que me tocaram fundo foi "That's the way I've always heard it should be". Sempre que ouvia, eu chorava e ficava pensando: será que é sempre assim? Será que tem mesmo de ser sempre assim? Consegui chegar aos 50 anos não sendo sempre assim. Tive de abrir mão de muita coisa de que eu gostava muito, que até adorava, para não ter de entrar nesse escambo de elogios, nesse tráfico de influências da academia brasileira. Conheço algumas outras pessoas parecidas comigo, que também sentiram náuseas na academia. E se afastaram. Mas repito: admiro quem tem estômago forte e reduz a própria capacidade a absolutamente nada em troca de diplomas e cargos. Principalmente no Brasil é disso que se vive, não é mesmo? E não vai mudar.

Tenho cá minhas idéias a respeito de muitos nomes consagrados, mas a academia não deixa que elas se revelem, pois podem tirar o emprego de muitos acadêmicos famosos. Fui reprovada três vezes em história da filosofia VI porque não aceito a interpretação de Kant que corre por aí. Quando fiquei de saco cheio da UERJ e resolvi pegar o diploma pra engavetar fui aprovada em história da filosofia VI com nota 10 (e acabei deixando o diploma engavetado lá na UERJ mesmo porque nunca precisei dele pra nada). Isso prova que eu sabia, sempre soube, o que nos obrigam a repetir, mas eu queria apresentar minhas idéias, o que é proibido. A professora disse: "Suas idéias merecem análise, não deixam de ter embasamento forte, mas não é essa a interpretação consagrada e eu não quero me comprometer". É assim: se você não engolir a interpretação "autorizada" da coisa, vai ficar amargando reprovação atrás de reprovação porque ninguém tem coragem de enfrentar os medalhões (por falar nisso, quem não leu devia ler a teoria do medalhão de Machado de Assis, pois ele sabe explicar essas coisas muito melhor que eu). Às vezes me lembro do método de conversão da cientologia (traduzi alguns livros dessa religião): o "auditor" passa o dia inteiro fazendo a mesma pergunta, até você dar a resposta que ele quer, e não a que você considera certa. Isso se chama lavagem cerebral. É assim que fazem na academia e o Ron Hubbard deve ter aprendido lá. Não só o Ron Hubbard, mas tem gente na trad-debate que também aprendeu com ele.

O que me fez lembrar de tudo isso foi este trecho:

"Perhaps Russell's most significant contribution to philosophy of language is his theory of descriptions, as presented in his seminal essay, On Denoting, first published in 1905 in the Mind philosophical journal, which the mathematician and philosopher Frank P. Ramsey described as "a paradigm of philosophy."

Eu não tenho o direito de afirmar que On Denoting está superado porque não pertenço às rodinhas do tráfico de influências, embora o descritivismo já esteja morto e enterrado (mas ninguém foi ao enterro). A turma do tráfico de influências elogia um texto obsoleto, então eu tenho mais é que me calar. Se quem também o acha obsoleto não está na lista dos preferidos da academia, então também vai ganhar uma mordaça. O negócio funciona assim: ninguém lê os trabalhos em si, só os elogios. Quando lê, sempre chega às mesmas conclusões que aqueles que os elogiam, pois é um perigo chegar a qualquer outra conclusão. Depois que o cara morre neguinho diz o que quer e ainda tem a desfaçatez de desmentir a autobiografia. Pô, meu! Jorge Amado já morreu, então acho que vou pegar alguns livros dele e sair por aí dizendo que fui eu que escrevi e ele assinou. Assim fica fácil ser autor de qualquer coisa. Principalmente quando se tem o tráfico de influências para dar amparo. É só fazer "amigos" na academia que tudo fica resolvido. E "amigos" está entre aspas porque sabemos muito bem que esses amigos só são amigos enquanto a gente não banca o preguinho assanhado do provérbio chinês que aqui se identifica com "o bom cabrito não berra".

Concordo com o Desidério Murcho quando ele diz que em Portugal e no Brasil só se formam historiadores da filosofia, porque ninguém tem colhões pra sair dessa pasmaceira e ter idéias próprias. Ninguém tem colhões para filosofar no Brasil, só para repetir. E quem tem idéias interessantes não tem estômago pra agüentar essa palhaçada do "é proibido falar mal de fulano" ou "tá na moda falar mal do cicrano". Quem quiser falar por si vai falar sozinho.

Em 1998 me reaproximei da academia, achando que talvez tivesse melhorado. Nada disso: piorô! Continua na base do toma lá dá cá. Repito: não tenho estômago p/elogiar o que acho ruim só porque o autor tem prestígio na academia. E o pior é que o português das faculdades e mestrados de tradução está muito mais ridículo do que aquele que criticamos aqui. É um tal de "o ponto", "ponto-chave", "questão-chave", "o que é um isso", "um aquilo é..." e outras coisas ainda mais ridículas que não dá pra engolir. E a turma sai por aí repetindo sem questionar. Ninguém se toca. Não consigo ler esse português capenga, esse tradutês cheio de decalques, sem criticar. É duro aceitar que os "professores" de tradução sejam os que mais cometem esses erros. É duro aceitar que os alunos, em busca do saber, se viciem nesse uróboros, em vez de aprender alguma coisa.

Com isso vou me afastando cada vez mais. Andei montando um curso de tradução, mas parei. Eu sozinha não conseguiria combater tantas bocas entortadas pelo cachimbo gigantesto dessa academia viciada. Só perderia tempo. Desisti.

Apesar de ter essa predileção por me avacalhar [com tanta gente pior do que eu por aí pra ele pegar no pé], bem faz o Tomás ao se manter distante dessa cambada da academia. Taí um cara que merece o título de doutor honoris causa, mas aposto que ele vomitaria em cima do diploma."

Show de bola. É dela também esse outro petardo:

"...as universidades públicas também já foram pro saco. Nunca estudei em universidade particular, sempre em universidade pública e hoje em dia tá difícil estudar até nas públicas, pois apodreceram. Até os prédios apodreceram. O prédio da UERJ está virando farinha."

A triste realidade nos parece menos triste quando dita de forma contundente e com estilo.

Kali.
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Não falo de mim,
mas do mundo,
bem mais importante
e interessante.
Quiçá, mais bonito :Þ

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