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quinta-feira, 3 de novembro de 2005

Dando bola para Claudinha

Quando viu pela primeira vez aquela guria cheia de graça que vem e que passa em sua rua pensou que fosse uma garota de outras bandas visitando uma amiga no bairro, que não veria mais aquela coisa tão bonita, que pena. Não tinha mesmo muita sorte com as meninas que o encantavam. Quanto mais gostava de uma, mais tinha que se contentar com uma outra. A paixão tomava conta da alma e o corpo só fazia besteira, ts, ts. Mas quando viu sua irmã comentando que havia novos vizinhos no bairro, se encheu de animação, de razão e de amor pra dar. Ela era linda, muito linda. Linda até dizer "chega!", no sentido de "chega mais", claro.

Então. Um dia estava batendo bola na rua com a turma. E quem se aproximou vindo da padaria? Claudinha, claro. Já sabia o nome dela e tudo mais. Pois é. Ela se aproximava, se aproximava. Afinal, ela tinha que passar ali para chegar em casa. Quando um companheiro tocou para ele, ele parou a bola sob os pés e, com a autoridade de ser o melhor da turma e também o dono da bola, disse em alto em bom tom para que todos ouvissem, especialmente ela: "Pára o jogo! Se essa menina levar uma bolada, eu mato um!".

Até conseguir ter uma certa intimidade com ela, foi um custo. Isso sempre acontecia. A capacidade de aproximação com uma menina era inversamente proporcional à atração que tinha por ela. Quanto maior era uma, menor era outra, e vice-versa, dez vezes mais do que o quadrado da distância que ele aprendeu na aula de Física.

Sorte foi a Aninha, com quem tinha bastante intimidade. Amiga indesgarrável de Claudinha, Aninha acabou ajudando muito na aproximação, mesmo sem que soubesse. Um dia até falou assim para Aninha: "Aninha, você é muito importante pra mim. Você me deixa feliz. Você é como se fosse uma ponte entre mim e o paraíso". Aninha ouvia e ficava toda boba.

Até que um dia... (sempre tem um dia, né?) ...até que um dia ele ficou na varanda de casa esperando-a passar. Com o violão, para sugerir naturalidade, desinteresse. Ela sempre passava por aí quando vinha da escola. E lá vinha ela. Ela e Aninha. Ficou de costas, fingindo não esperar ninguém. E esperou, esperou, esperou. Ninguém passou. Concluiu que, quando o viram na varanda, e como acharam que ele não as tinha visto, passaram por outra rua. Aquilo o deixou frustrado, decepcionado, amargurado, deprimido.

Mas não se deixou abater. Até cantou "Andança" ao violão junto com a irmã no dia em que ela se mudou para o Rio de Janeiro. Ele escolheu a música. Primeiro, porque diziam que havia música mais bonita do que aquela, mas ele não acreditava. Segundo porque a letra dizia "por onde for quero ser seu par". Ele realmente havia se apaixonado por aquela menina que agora partiria com um dó maior.

Um ano depois, domingo à tarde, voltando de um jogo de futebol, ele se depara com ela, que voltava ao bairro para rever os amigos. Estava mais linda do que nunca. Recebeu-a tão friamente que Aninha falou com ele, em particular, quando ela saiu: "Puxa! Como você foi frio com nossa amiga!". A desculpa que ele sabia que não iria colar foi essa: "Eu estou muito cansado do jogo."

Ainda disse, com um sorriso enigmático: "Mas não se preocupe. Não vou dar uma bolada nela."

Claro que Aninha não entendeu porra nenhuma. Talvez só mesmo Claudinha entendesse.

"E se não entendesse, foda-se, que eu tenho de ir pra casa tomar meu banho!".

Mentira. Sozinho no banheiro misturaria lágrimas de mágoa às águas do chuveiro.

Kali.
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Não falo de mim,
mas do mundo,
bem mais importante
e interessante.
Quiçá, mais bonito :Þ

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