POESIA EM DUAS LINHAS
Ela me dizia:
"Que bela poesia
Fizeste para mim aquele dia!
Nunca hei de me esquecer
Da doçura dos versos teus
E de tua mais fina ironia!"
Ao que respondi:
"Ora, o prazer foi todo meu.
Sou eu que devo agradecer
Pela inspiração que me acometeu.
Portanto, foste tu, mais do que eu,
A mentora dos versos
Que este poeta escreveu."
Falava só de boca.
Fosse do coração, outro discurso sairia:
"Houvesse inferno e lá houvesse fogo,
Seria onde tua alma arderia,
Pois nem podes repetir os versos
Que tu mesmo elogias
Se os versos que eu fiz
Ficaram embolados num papel amassado
Em uma mesa de bar já vazia.
Mas deste-me a inspiração daqueles versos
E por ela te agradeço.
Nada há de controverso, nem de inferno,
Nesse pequeno tropeço.
Fico eu com os versos teus
Vez que não precisas de minha poesia.
Mas dela eu preciso.
Dela me alimento,
É ela meu sustento.
Além de tudo,
Não saberia redigir
O tipo de poesia
Que aprecias digerir.
Ela será feita por outro,
Não por mim.
Será escrita em duas linhas
Com uma caneta fina,
Em algarismos e por extenso.
E, uma vez assinada e destacada tal poesia,
Não será ela abandonada,
Será cuidadosamente depositada.
Porém num banco, não numa mesa fria."