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sexta-feira, 4 de julho de 2003

Um pequeno conto

Essa pequena "tragédia grega" eu escrevi há algum tempo e resolvi postar. Aliás, nem me lembro se já postei aqui. Como agora não dá para verificar isso, aqui vai:

A TRAGÉDIA DO HACKER

Havia um jovem hacker que passava horas a fio na frente do computador realizando invasões em outros computadores, apagando e danificando dados e softwares alheios e furtando informações de pessoas e empresas, devassando a intimidade das primeiras e dados importantes das segundas. Também se dedicava à elaboração de programas de vírus, espalhado-os pela internet com o objetivo de destruir arquivos e documentos que as pessoas mundo afora guardam com zelo em seus micros.

Não entendendo o que acontecia, mas preocupada com o estranho comportamento do filho, um dia sua mãe entrou no quarto de onde o filho quase nunca saía e lhe perguntou:

– Filho meu, que motivo tão forte faz perderes horas preciosas de sua vida diante desse equipamento?
– Divirto-me espalhando programas que destróem o que existe nos computadores mundo afora, minha mãe. São os famosos vírus de computadores. Mas pode se aproximar, minha mãe. Não pega em gente.

Apontando para uma pilha de cd´s que estava sobre a mesa, sua mãe perguntou:

– Fica nesses discos o mal que tu fazes?
– Pergunte a eles. Eles falam por si.
– Discos não falam. Simplesmente os discos exalam o mau cheiro que roubam de ti.

Sem saber que as palavras usadas por sua mãe eram inspiradas em um poeta e compositor que ele não tinha tempo de ler, mesmo que tivesse interesse nas coisas que faziam bem ao espírito como literatura e música, o hacker começava, nesse exato momento a despertar o mal alojado dentro de si e sua alma ia sendo tomada por um manto de sombras.

Sua mãe continuou:

– Por que fazes isso? Não vês que prejudicas pessoas que nem conheces? Ao proceder dessa forma, que prazer nefasto sentes?
– Divirto-me, apenas isso.
– Sou tua mãe, e embora não entenda de computadores, vejo bem o que acontece. Não é por prazer que dedicas suas energias a atos tão pérfidos. É por vingança que o fazes.

O hacker, sem entender bem o que sua mãe dizia, mas tomando cada uma daquelas palavras como afronta, indagou, sob o fel da raiva em que seu ser se aprofundava:

– Vingar-me do quê se nenhum mal me fizeram?!
– Engana-te, meu filho! Em teu íntimo não aceitas que as pessoas ganhem o dia que tu perdes produzindo nessa máquina coisas inúteis e perniciosas. Tu as ataca, não por vê-las ganhando luas, mas por teres perdido o sol. Não suportas a inutilidade em que tu transformaste tua própria vida e teu próprio ser. Não admites a morte em vida em que hoje estás e, por isso, pensas querer vingar-te dos outros, quando é de ti mesmo que te vingas, por seres tão mau e cruel quanto os programas que crias!

Diante daquelas palavras e porque jamais imaginava ser enfrentado na redoma de poder criada em torno de si graças à sua capacidade de interferir nos destinos das pessoas em vários lugares do mundo sem jamais ser ameaçado, o jovem hacker foi tomado por um profundo ódio contra sua mãe. Então, respondeu:

– Como ousas julgar meu caráter pelo que está fora de mim? Tu confundes seu filho com vírus de computador?! Não consegues distinguir o criador de sua criatura, mulher infeliz? Não vês que, embora tenhas me gerado, somos seres distintos? Como poderia eu ser aquilo que criei, se nem mesmo tu que me gerou és como eu, por ti gerado, ser ignorante!

A mulher, triste com a atitude do filho, respondeu com sabedoria:

– Entenda, meu filho! Como ninguém pode dar o que não possui, tu espalhas para outras pessoas seres nefastos que habitam tuas entranhas. Se algo dás é porque o trazes em ti e já tomou conta do teu desafortunado ser. Toda árvore só pode oferecer o fruto que vem de sua própria seiva. Se é de ti que o mal vem, é em ti que o mal está.

Revoltado com aquelas revelações, o filho hacker levanta-se ameaçadoramente contra sua mãe:

– Ao menos deixo algo em minha existência! E tu, o que dás?
– Dei-te a vida! – falou uma emocionada mãe.
– Pois te dou a morte!

Impiedosamente, por vezes seguidas, cravou na mulher que o gerou um punhal que escondia no quarto.

– Se sou mal e se foi de ti que saí, então o mal está em ti! Não foi o que disseste? – gritava alucinadamente.

Agonizante, sua mãe proferiu as últimas palavras:

– Filho,... compreendas o que aconteceu. Embora me mates... é em ti que pousa a morte... Não a me impuseste nem tampouco a ela me juntaste... mas dela me apartaste ao tirar-me para sempre de junto de ti... E entre mim e a morte,... escolheste mal a companheira com quem a partir de agora viverás...

Aplacada sua ira, o jovem hacker voltou ao computador para dar prosseguimento à sua estranha labuta. Do que aconteceu, nada o perturbou nem o atingiu, a não ser a materna maldição que ainda hoje descansa inabalável sobre ele, olhando sobre seus ombros o que ele digita na tela do computador.

Kali.
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Não falo de mim,
mas do mundo,
bem mais importante
e interessante.
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