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quarta-feira, 23 de julho de 2003

Futebol, cicatrizes, chuteiras, meiões e estudantes de Direito

Talvez muitos de vocês já saibam, mas a terceira coisa que mais gosto na vida é de jogar futebol. A segunda é de jogar bola, e a primeira é de pelada :)

Acontece que no último domingo eu me ferrei. Uma pancada casual (assim suponho) me abriu o supercílio (descobri que ele não era tão super como se fala). Foi um corte feio. Quando coloquei a mão para sentir, o dedo quase entrou todo na abertura feita. Muito sangue, mas que logo estancou por eu ter mantido o corte fechado, pressionando com a mão. Ossos do ofício - ou melhor, ossos do ócio. Paciência.

Mas o que me tocou mais fundo não foi nem a cotovelada inadivertida do jogador adversário. E nem foi no corpo, foi na alma. Foi quando eu me sentei no banco de reservas, apoiado por dois companheiros, depois de ter ficado estirado por algum tempo no gramado. A cena que se seguiu me comoveu bastante e me fez ficar ainda mais apegado ao nosso tão conhecido e violento esporte bretão.

Como vocês podem suspeitar, eu jogo bola com pessoas muito humildes, tanto no sentido social quanto no sentido econômico do termo. Gente pobre mesmo, que tem dificuldades até de pagar uma pequena quantia do rateio da lavagem do uniforme. Mas pessoas de um coração tão grande quanto o próprio campo onde correm sem fôlego atrás de um bola de couro cheia de ar.

Então. Assim que me sentei no banco e enquanto eu segurava uma pedra de gelo sobre o ferimento com uma das mãos e, com a outra, fechava o próprio ferimento para estancar o sangue, um de meus companheiros chegou e, sem falar nada, pegou o meu pé esquerdo e começou a desamarrar as chuteiras. Outro, sentado ao meu lado começou a desatar o laço da tira que prendia o meião na parte superior de minha perna. Apesar da amizade que tenho com eles, confesso que senti um certo constrangimento com aquelas atitudes tão servis e desinteressadas. Pessoas que provavelmente eu não seria digno de tirar seus chinelos estavam desamarrando minhas chuteiras e meus meiões sem que eu solicitasse o favor, por puro desprendimento de espírito. Tem preço isso?

Estudo numa universidade federal e vivo o contraste entre esse desprendimento e o egocentrismo de boa parte dos colegas de curso de Direito. Os poemas que escrevo aqui geralmente eu levava para a sala de aula onde eram recebidos com frieza e desdém por pessoas voltadas invariavelmente para si próprias, ordinariamente para o estudo, exclusivamente para o sucesso profissional e ansiosamente para um futuro promissor; pessoas que querem a todo instante mostrar que sabem mais que os demais. Pessoas que, não demora, não demora, ainda antes de receber o diploma, vão estar convencidas de que a vida se resume a um processo judicial. Pessoas que querem o melhor para si, a ser tirado dos outros. Enfim, pessoas que serão excelentes advogados.

Kali.
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Não falo de mim,
mas do mundo,
bem mais importante
e interessante.
Quiçá, mais bonito :Þ

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