A bela surpresa de que Cris fala nos comentários do post anterior refere-se ao seguinte:
Visitei ontem o blog Essencial, dela, pela primeira vez, acredito. E lá pelas tantas leio esse post:
Sexta-feira, Maio 02, 2003
Dia desses na casa da minha mãe, fiquei um bom tempo abrindo armários e garimpando passado para trazer pra minha casa.
Acredite: voltar a casa dos seus pais, mais precisamente ao seu quarto, depois de ter saído há um bom tempo, é uma viagem alucinante.
Encontrei tanta coisa.
Encontrei agendas. Muitas.
E encontrei isso aqui escrito em 14 de Julho de 96:
-Dói tanto. Esse homem me fez morrer em minutos de conversa. Só consigo ouvir Roberto Carlos e chorar.-(nesse dia ele 'optou' por ficar com a esposa e não comigo)
Poxa, eu tinha 20 anos e já sabia tanto assim de dores de amores...
Aí me lembrei que Roberto Carlos embalava minha fossa e o quanto eu me odiava por aquilo.
E de repente me vi ali sentada na poltrona verde musgo próxima á janela, observando aquela que eu fui um dia.
Sério, eu me vi. Fisicamente.
Tão cheia de fé em tudo, em todos.
Eu rezava antes de dormir.*
E fiquei ali me vendo, experimentando roupas, falando ao telefone, estudando, transando...e não reconheci mais aquele rosto (meu) tão cheio de tudo.
O meu quarto hoje virou um mini estúdio do meu irmão.
Tem bateria, tem roupas que ninguém usa mais, tem um cheiro de passado.
Tem também um mural de cortiça cheio de fotos.
Tem bichos de pelúcia, tem a coleção de latinhas de cerveja.
Tem tanto de mim ali e tão pouco do que restou aqui.
*Ontem tentei falar o 'Pai Nosso' a uma amiga e errei tudo, esqueci o lance de 'perdoar as nossas ofensas, assim como perdoamos a quem nos tem ofendido.'
Deve ser isso.
A leitura levou-me a deixar o seguinte poema nos comentários (modifiquei umas palavrinhas para melhorá-lo) - para ela, só para ela, pra mais ninguém:
QUARTO MINGUANTE
Voltou à casa em que vivera,
Ao quarto do passado
Em que um futuro morrera,
De paredes cegas, fechadas,
Mas de janela aberta
Com um sofá na beira,
Aberta como sua alma
Que assistia a tudo e não dizia nada.
Então viu-se a si mesma
...Tão cheia de tudo...
Aos vinte anos
Olhando pela janela
Que seria uma tela
A exibir um filme em que a estrela era ela.
Estrela de brilho raro, cintilante,
De um tempo já um pouco distante,
Mas que se repetia naquele instante
No brilho da lágrima dos olhos dela.
Confesso que achei legal, muito legal, esse poema. Mesmo que meus poemas não agradem, sempre haverá ao menos uma pessoa que se emocionará com eles. E sempre a primeira que o lê: eu.
Kali.
Gostou, assine.
Não falo de mim, mas do mundo, bem mais importante e interessante. Quiçá, mais bonito :Þ