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quarta-feira, 14 de maio de 2003
O texto abaixo eu peguei no Bavardage, da Fernanda. Brilhante essa menina. Vai ser psicóloga. Já disse que não vai dar certo. Quem se consultar com ela vai ficar doido pra voltar :) O texto é do seu xará Fernando Pessoa. Para mim, é epicurismo puro. Independente disso, é muito lindo.
Ah, nao é verdade que a vida seja dolorosa, ou que seja doloroso
pensar na vida. O que é verdade é que a nossa dor só é séria e grave
quando a fingimos tal. Se formos naturais, ela passará assim como
veio, esbater-se-á assim como cresceu. Tudo é nada, e a nossa dor
nele.
Escrevo isto sob a opressao de um tédio que parece nao caber em mim,
ou precisar de mais que da minha alma para ter onde estar; de uma
opressao de todos e de tudo que me estrangula e desvaira; de um
sentimento físico da incompreensao alheia que me perturba e esmaga.
Mas ergo a cabeça para o céu azul alheio, expondo a face ao vento
inconscientemente fresco, baixo as palpebras depois de ter visto,
esqueço a face depois de ter sentido. Nao fico melhor, mas fico
diferente. Ver-me liberta-me de mim. Quase sorrio, nao porque me
compreenda, mas porque, tendo-me tornado outro, me deixei de poder
compreender. No alto do céu, como um nada visível, uma nuvem
pequeníssima é um esquecimento branco do universo inteiro."
Um possível diálogo numa sala de aula: Professor: Apresentem-se e digam o que pretendem com o curso de Direito. Aluno: Kali. Ainda não sei ao certo. Isso não me preocupa. Quando receber o diploma verei o que a vida me reserva. De qualquer forma, uma utilidade o diploma terá: como eu vivo num país de clima tropical, quente e úmido, pelo menos servirá para abanar meu rosto. Isso me gratifica. Quem não se contenta com pouco, não se contenta com nada. Além de tudo, passar todos esses anos ao lado de pessoas maravilhosas como essas que me cercam agora nesta sala e que serão futuros magistrados, advogados e promotores, por sí só recompensa o esforço. Não posso, em nome de um objetivo futuro sacrificar a magia do momento. Se eu perder o olhar no horizonte, perco também a chance de admirar as flores mais próximas. Elas são efêmeras, não podem esperar. Se eu não viver o momento que passa, não o viverei mais. Acho que é isso. Mas acontece que mais tarde uma linda colega me chamava insistentemente. "Kali! Kali! Kali!". E eu sem responder, absorto, ouvindo o professor falar. Ir à escola pra ficar prestando atenção na aula! Isso contraria os meus princípios :)
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Não falo de mim,
nos cartões abaixo para ver os diálogos. imagens: Kim Anderson textos: kali |