ANDANÇA II
Manhã de sol.
Um caminhar pequeno
E o mar à minha frente
Sereno.
Da areia quente
Um contato breve e último.
No desligar do telefone,
Meu ouvir perdido do seu falar,
E meu olhar perdido no horizonte.
Às minhas costas, o eco de uma voz humana.
À minha frente, a costa africana.
Entre mim e o continente onde o homem nasceu,
Um navio inerte, como eu.
Apenas ancorava.
Só eu navegava.
Entre mim e o céu,
Onde o homem criou Deus
À sua imagem e semelhança,
O sol em sua pujança
A queimar em fogo a areia
E em mim a sua lembrança.
No ar, uma gaivota.
Seria uma esperança,
Não fosse um silêncio
A interromper nossa dança.
Na praia, uma criança.
Seria você pequena, em lambança,
Se o sol já não houvesse apagado em mim
O frescor de sua nuança
E os resquícios de suas folganças.
Por onde fosse, queria ser seu par.
Mas devo voltar. Pequena distância.
Pequena e sem você, a minha andança.
Mas será suave o meu caminhar.
Será leve meu pisar por eu saber
Que essa terra encerra o meu bem-querer.